quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Agradecimento

Queridos Perfurantes,

Sete semanas se passaram em ateliê de performance e galeria de arte aberta ao público. Entre dezembro de 2016 e início de fevereiro de 2017, permanecemos perfurando, perfurantes e perfurados na Galeria de Arte GTO do Sesc Palladium.

Muitas pessoas passaram por aqui: presenças performáticas, curiosas, cambiantes, abertas e em processo constante de muitas trocas e percepções coletivas em torno da arte da performance, da ação e do encontro.

Agradecemos a cada um por estar conosco. Pela presença e abertura, seguimos agradecidos e em estado de graça.

A seguir mensagem de agradecimento da curadora Ana Luisa Santos:

"'as coisas não acabam, elas mudam'.

gratidão a todxs por compartilhar experiência que perfura vida que perfura arte que perfura corpo que transforma"



Perfura_vídeo \semana 7

Confira resumo da semana 7 do \perfura, por Joacélio Batista



terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

O tempo da escrita

Ou, sobre escrita e performance

Sinto que comecei a alinhavar uma tessitura do que poderia ser o começo de reflexões do que se passou no \perfura_ateliê de performance. Ênfase: alinhavar o que poderia ser o começo. Como acontece em diálogos ao vivo, muitas vezes, uma conversa é apenas pano pra manga de conversas futuras e o assunto não se encerra tão cedo ou tão fácil. A gente sempre retoma, e o assunto, quando faz parte importante de nossas vidas – afetos, pesquisas e fazeres –, está sempre na pauta do dia.

Um dos assuntos que mais retornou nas atividades dialógicas do \perfura foi a respeito de registro, memória e rastro de performance. Muitos brincaram com a Luiza Palhares, fotógrafa do evento, dizendo que ela já tinha uma pesquisa de mestrado pronta. Ela mesma resume o assunto com a frase lapidar: "Fotografar performance é como vestir os sapatos de outro". A melhor forma de deixar uma conversa em aberto é resumi-la numa frase lapidar, que suscita ainda mais questões.

Tratamos constantemente da relação limiar entre performance e fotografia de performance: a relação do artista com a fotografia, a expectativa da fotografia em relação ao trabalho, a presença do fotógrafo durante a performance, a relação do público com a fotografia de performance, a fotografia como uma das memórias possíveis da performance, a fotografia como registro material de uma ação que é por si só efêmera etc.

Mas sobre minha colcha de retalhos de impressões e começos de reflexões, sinto que se me fosse pedido daqui três meses me debruçar sobre as anotações e escrever um artigo, um relato ou um texto expandido, muita coisa seria amadurecida. Muito do que ficou registrado apenas mentalmente teria a oportunidade de se sedimentar e cair no papel. Com o tempo que una escrita reflexiva demanda.

Experimentei muitos desafios. Como, por exemplo, sair escrevendo. Muitas vezes, a maioria delas, escrevi sem me deter sobre o texto e em alguns casos sem qualquer tempo para retornar a eles. Experimentei o desafio de fazer da escrita algo mais imediato. O que me suscitou questões sobre o que é uma escrita reflexiva – de como registro e memória de um evento – de performance.


Como alguém que se dedica à teoria filosófica e como alguém que se dedica à performance como tema de investigação e à escrita como prática profissional, sinto que exercitei um pensamento sobre a incapacidade de escrever. Os temas que mais me pegaram como desafio diário da escrita era o tempo necessário para puxar un assunto da memória, pensar criticamente digitando, retomando, apagando, contemplando o vazio, se perdendo em pensamento associativos, revendo anotações antigas. Escrever sem tempo de ponderar ou consultar. Escrever em meio à atualizações e notificações do blog e do facebook. Escrever entre uma ação e outra. Escrever estando disponível no espaço da galeria suscetível a múltiplos atravessamentos. Escrever sendo interrompida por urgências e presenças também disponíveis para o diálogo. Escrever na impossibilidade de escrever. Escrever diante do desafio da dificuldade em se concentrar na escrita – que habituamos a ser um tempo silencioso, nós com nossos próprios pensamentos, sendo escutados, elaborados e ruminados num espaço ou tempo de isolamento e introspecção.

O tempo da escrita do \perfura foi o tempo de uma escrita imediata, imediata como são as impressões e sensações sucessivas. Uma escrita perfurada.

Mas a escrita sobre performance não precisa ser imediata. Pode ser um compartilhamento de experiência. Pode ser uma abertura para viver e pensar junto, para sentir e atravessar junto. Por outro lado, por mais que a performance seja essa linguagem papo reto – venha compartilhar comigo –, mais sensível do que analiticamente interpretável, ela demanda um tempo de respiro, para que o que foi sentido possa ser percebido com maior nitidez e neutralidade. É como se tivéssemos tido uma experiência bem intensa e com o tempo pudesse absorvê-la ao revisita-la com distanciamento. Não se trata de um distanciamento afoito em produzir sentido/significado hermenêutico/intelectual, mão no queixo analítico, mas de digerir uma vivência transformando numa experiência mais elaborada, mais digerida, como se apropriássemos do que nos é próprio. O tempo da reflexão meditativa, do eu consigo, a introspecção silenciosa que deixa o pensamento se esclarecer sobre o que importa, ou sobre o que ainda precisa ou deseja ser revisitado, pela reverberação que causa em nós, pela permanência de estar ainda conosco, à flor da pele. 

Que possamos então com o tempo permanecer atentos ao que importa, às sedimentações de tudo o que o \perfura nos proporcionou em termos de experiências, provocações, amadurecimentos, trocas e percepções.

Continuemos


Sobre vivência, experiência e reflexão

Dia desses desta última semana de \perfura, me peguei falando sobre um teórico que gosto bastante e de quem o Paul Zumthor tomou o conceito de performance para pensar a dinâmica da produção, transmissão e recepção das poesias vocais. Esse teórico é o Dell Hymes, um etnógrafo, que fala que a performance seria, nas comunicações vocais, uma competência comunicativa. Outras duas competências comunicativas, anteriores em complexidade à performance, é a capacidade de relatar e a capacidade de interpretar.

Durante o disseminário que conduzi falamos também sobre a diferença entre ter uma vivencia (no alemão Erlebnis) e ter uma experiência (Erfahrung).

O interessante disso tudo é que, desde o início desses escritos em torno do \perfura, tenho me visto nessa incapacidade de fazer uma reflexão imediata dos acontecimentos. E pelo volume dos acontecimentos da programação, vejo que as impressões de uma ação ou performance sede o lugar de atenção para a próxima ação ou próxima demanda de atualização.

O foco é o tempo da reflexão e sedimentação de uma experiência. Do mesmo modo que, concordamos, uma experiência estética não pode ser provocada pelo simples comando ou sugestão, uma experiência ou uma vivencia tem seu tempo próprio e imprevisível de digestão. É claro que com um tempo maior disponível para a reflexão – por exemplo, dias mais livre após participar de uma performance – essa reflexão pode acontecer num tempo delimitado. Mas também sabemos que a digestão de algo que nos afeta reverbera em nós na medida em que retomamos àquela experiência e a associamos com outras vivências, outras percepções – na medida em que lançamos sobre ela uma outra luz.

Nesse sentido, desde que o perfura começou tenho exercido mais a capacidade do relato por aqui e, ao mesmo tempo, percebido as demandas específicas em torno da escrita sobre performance. É preciso, acredito (uma reflexão ainda não embasada, mas sim intuitiva), fazer uma breve descrição da performance, caso se queira comunicar com pessoas que não estiveram presentes ou mesmo estabelecer relações ou adentrar numa reflexão mais pormenorizada. Há alguns casos que, após feita a descrição, qualquer análise ou maior explicação dos acontecimentos, dos elementos e das referências, soaria por demais redundante – chovendo no molhado.

Me peguei muitas vezes me questionando qual outra via de relato que não passasse pela descrição dos acontecimentos. Afinal, performance é uma ação em curso. Isso está incutido na etimologia da palavra. Numa definição de Zumthor, a performance designa uma ação em curso com um prefixo que aponta para um inacabamento: uma forma-força, um dinamismo formalizado, mais um desejo de realização do que uma obra acabada, um conceito a ser transmitido.

É difícil escrever sobre performance. E há muito o que dizer a respeito dessa dificuldade. Uma delas é o fato de que sendo essa linguagem algo não representacional, mas ativo e participativo – algo em que tomamos parte como público, em que nossa presença faz parte da performance –, seria impossível não se colocar como sujeito que percebe, que é afetado, que tem uma experiência. Sendo uma poética artística que se faz como a oferta de uma experiência e/ou uma vivência, nesse caso, a escrita sobre performance demanda um se pôr a nu. Uma exposição de si mesmo na relação com uma performance.

Muitos outros textos deveriam ter surgido por aqui. Não foi por falta de assunto ou discussão. É que o tempo da escrita também é outro, distinto do tempo da experiência e do tempo da fala, da dinâmica do diálogo.

Que os temas discutidos reverberem. Que as experiências sedimentem. Que as reflexões sejam compartilhadas com outros e outros e outros, independente de terem estado no \perfura ou não. Afinal, o livro de eventos está sempre aberto no meio. E todo começo é apenas continuação.    

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Sarau aberto de performance. Último dia

Último domingo do \perfura, último dia de ateliê aberto de performance, último sarau aberto.

A domingueira performática do nosso ateliê recebeu muitas presenças e propostas de ações. Começamos a tarde com Inácio Mariani trazendo um trabalho de video-performance com televisor, a respeito de presenças mediadas. Em seguida, vimos Juhlia Santos e Thais Ariel Toledo apresentar "Se os homens são feitos de barros, nós somos feitas de lama".

Álvaro Paiva também performou "Buscando o equilíbrio" na tarde de domingo. Do meio para o fim de tarde, Bremmer Guimarães apresentou "Escapulário", Marla Antonine e Janaína Lages performaram "$er que goza", seguidas de Letícia Grandinetti, Margô Assis e Noemi Assumpção que apresentaram "Conferência". O dia de sarau aberto de performances se encerrou com Pedro Henrique Pedrosa apresentando "Corpo Devoção".

Durante toda a tarde, artistas residentes e presentes trocaram de roupa entre si.

Último dia de ateliê aberto de performance termina com Finissage. Festa de encerramento, de agradecer e celebrar as presenças que passaram por aqui, por todas as experiências vividas e por todas as trocas que o \perfura nos possibilitou, artistas, pesquisadores, fotógrafos, cinegrafista e público presente.

Continuamos. Porque todo começo é apenas continuação. E o livro de eventos está sempre aberto no meio.

Sat Nam















Álvaro Paiva, "Buscando o equilíbrio"




Trocas de roupa entre artistas residentes e presentes





Bremmer Guimarães, "Escapulário"






 Marla Antonine e Janaína Lages, "$er que goza"



Letícia Grandinetti, Margô Assis e Noemi Assumpção, "Conferência"








Pedro Henrique Pedrosa, "Corpo Devoção"











Finissage




domingo, 5 de fevereiro de 2017

Mostra perfura, sábado 4.02

A última semana de \perfura recebeu Lira Ribas, Priscila Rezende e André Ramanery na \mostra perfura de sábado dia 4 de fevereiro. 

Lira Ribas















Priscila Rezende





André Ramanery