sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

\disseminário comigo, Mariana Lage

Como escreveu sobre meu próprio \disseminário?

Foi uma experiência incrível. Primeiro porque antes de receber o convite para conduzir um \disseminário, a curadora Ana Luisa Santos já havia me convidado para acompanhar o evento no papel de alguém que ia refletir sobre os acontecimentos, pensar, sentir e escrever sobre. O convite era o de acompanhar e pensar junto, e ir postando esses pensamentos – imediatos ou digeridos, impressões, percepções ou reflexões – no blog do ateliê de performance.

Passado alguns dias, Ana me convida para conduzir o disseminário da última semana e disse que eu poderia ficar bem a vontade, falar das minhas pesquisas de presença e performance e/ou falar de como foi acompanhar as sete semanas de ateliê aberto de performance na galeria de arte do Sesc Palladium.

A minha escolha foi falar dessa perspectiva existencial que guiou minhas pesquisas em Estética, Filosofia da Arte e arte contemporânea desde meados da graduação em jornalismo, em 2002. Chamo a perspectiva de existencial porque as noções de “experiência” e “sentido”, e a particularidade e individualidade dessas vivências, estão presentes nas minhas pesquisas sobre experiência estética, tema que me levou aos termos de presença e performance. Também chamo de existencialista pois tenho reconhecido o lugar de importância que Martin Heidegger ocupa nas abordagens críticas e filosóficas que desenvolvo. Se penso nos autores que mais estudei e mais influenciaram, é como se Heidegger tivesse feito uma escola – e de fato fez (embora muitos prefiram não reconhecer sua herança determinante). Mas essa escola a que me afilo por afinidade e leituras insaciáveis é a da hermenêutica fenomenológica que inclui Hans Georg Gadamer, Hans Robert Jauss, Paul Zumthor e Hans Ulrich Gumbrecht. É certo que Zumthor e Gumbrecht ultrapassam ao largo essa perspectiva, mas também é bem claro que se formaram nela, moldaram seus primeiros anos de pesquisa, para depois abranger outras direções, desconstruir as heranças e reconstruir abordagens mais fluídas.

Heidegger e Gumbrecht me trazem um olhar mais atento a uma experiência do inaudito, para além de um pensamento metafísico que separa sujeito e mundo como instâncias opostas e estanques. Também me incentivam a ver as vivências – sejam estéticas, sejam a do pensamento criativo e meditativo – para além do pensamento técnico e da supremacia da interpretação e do significado. Com o conceito de soltura ou serenidade, tradução do termo em alemão Gelassenheit, Heidegger me ajuda a trazer para a Estética uma abordagem que considera as predisposições existenciais do acontecer na experiência estética, ou o que ele também chama de tonalidades afetivas.

Ao pensar sobre o que gostaria de falar no perfura, e escutando algumas sugestões de amigos próximos, me propôs a fazer algo que quis muito fazer, que seria aliar Heidegger, Gumbrecht e a estética filosófica com perspectivas e práticas do Kundalini Yoga. Aproveitei a oportunidade do perfura e tracei alguns paralelos entre a filosofia, nessa perspectiva da estética que tenho estudado, e alguns ensinamentos do kundalini yoga. Ao final da minha fala, como saída a uma ausência de sugestão prática por parte de Heidegger a respeito de como despertar a serenidade e a soltura como tonalidades afetivas, propôs alguns práticas yóguicas de equilibrar os dois hemisférios do cérebro, de ventilação do cérebro e fortalecimento do ponto do umbigo e uma meditação para despertar um coração tranquilo.

Gostei muito do diálogo com as pessoas presentes. Renato Negrão trouxe um trecho de Cioran. Clarice Lacerda contribuiu tanto com uma perspectiva zen quanto com uma leitura astrológica da existência. Cris Oliveira pontuou algumas questões sobre as instituições artísticas. E outras pessoas também pontuaram, perguntaram e meditaram e ficaram em silêncio.







Fotos: Luiza Palhares

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