Belo horizonte, primeira semana de dezembro de 2016.
Hoje é dia 11 de dezembro, o computador me mostrou mas eu
mesma estou com dificuldade para discernir os dias.
Há cinco dias, no dia 06 de dezembro iniciamos o perfura
ateliê de performance.
Eu me propus a fazer a curadoria e ser uma artista residente
de um projeto que idealizei há três anos durante o encontro ritual de conclusão
de um curso de especialização em performance.
Eu disse eu gostaria de estender essa experiência e proponho
um ateliê de performance.
Do grupo do curso, reuniram-se pessoas que realizaram duas
residências artísticas na cidade de Tiradentes, uma trans residência
experimento queer, uma plataforma "o que você queer" e outras colaborações
paralelas a essas iniciativas de característica aberta e de formação.
Hoje eu estava para escrever esse texto e estava em
pré-performance de quando você vai escrever, de quando você vai fazer uma
performance
Esse frisson, essas libélulas híbridas na barriga, no peito,
em toda a sensação de carne e de vazio que a gente pode sentir do corpo
O poro é esse espaço da carne e do vazio
E as libélulas vem beber nele como num rio
Essa curadoria radical que as libélulas processam em mim
Essa curadoria radical que o perfura ateliê de performance
propõe em mim
Essa solidão necessária de escrever e ao mesmo tempo todo o
atravessamento que esse espaço me provoca
Não é uma experiência única
Ou solitária
Ou individual
Essa residência não é só minha
Esse corpo não é só meu
Tem muita gente comigo, radicalmente
Pessoas que fizeram uma escolha radical, assim como eu
Uma escolha radical de estar aqui
De ocupar esse lugar
De receber
Sem essas pessoas eu não conseguiria
É óbvio que eu não conseguiria fazer uma ateliê de
performance sozinha
Por isso eu chamei muita gente
Mais de 70 presenças
Muitas, muitas pessoas que ajudam a cuidar desse espaço
Que ajudam a cuidar desse espaço para que ele possa receber
Para que eu possa receber
Para que você possa receber
Para que nós juntos possamos receber
E que possamos ouvir
Aqui, há uma semana, começamos a receber
Muitas pessoas vieram aqui e eu estou sentindo uma espécie
de transe por tantos encontros que eu percebi
Eu cumprimentei, abracei e dei boas vindas para todas as
pessoas que passaram neste lugar, as vezes, mais de uma vez por dia
Bem vinda, eu disse dezenas de vezes
E para além de uma manifestação pela implosão de gênero na
genitália ou na linguagem
Eu acho que estava dando boas vindas para mim mesma
Que eu seja bem vinda
neste espaço
Que eu sempre seja a primeira a me convidar para estar aqui
E que eu possa reverberar essa emoção de estar aqui com
outras pessoas que vem aqui
Interessadas em performar
Estou aprendendo muito sobre arte da performance
Estou experimentando muitas formas diferentes de ativar um
corpo performático ou performativo
Estou experimentando fazendo e ouvindo
O que eu mais faço é cuidar do ateliê
Fico prestando atenção em como está o espaço, como está o
fluxo de energia aqui
Mexo móveis, faço comida, lavo copos, recebo pessoas, trago
objetos, coloco música, observo a iluminação, participo de todas as atividades
da programação, interajo com quem está trabalhando na estação gráfico
editorial, converso com a produção, converso com o guardião da galeria, observo
as plantas, mudo elas de lugar, monto equipamento, tiro sapato, ponho sapato, fico
querendo grama na entrada da galeria, distribuo calendários, carrego móveis,
almofadas, cadeiras, mesa, como, como muito, trago marmita, compro comida,
como, como muito, escuto muitas perguntas, tento responder a maioria delas,
escuto e percebo questionamentos de vários tipos, escuto elogios, escuto
cantadas, beijo na boca, choro, faço alongamento, saio para fumar, volto, volto
muitas vezes.
E todas as vezes que eu chego eu gosto, eu gosto daqui, acho
que aqui está gostoso
Apesar de que eu tenho trabalhado muito e estou me sentindo
cansada
É uma etapa de entrada dessa performance de 7 semanas que o
ateliê é para mim
Com curadora e artista residente
Sinto que essa performance é um tipo de curadoria radical
Uma ação radical de cuidar do espaço onde acontece a ação
É muito trabalho
E ainda bem que eu sinto confiança nas pessoas que estão
aqui como equipe de base dessa ativação
Carol, Cris, Clarice, Thais, Victor, Fernanda, Guilherme,
Renato, Zaika, Jonata, Mariana Lage, Luiza Palhares, Joacélio Batista e, claro
os artistas que se autodeclararam residentes Álvaro, Marc Davi, aos artistas
visitantes da semana, Mariana Rocha, Paola Rettore, Wilson de Avelar, Felipe
Soares, Arthur Camargos, Davi, Matthias, e todas as pessoas e artistas
colaboradores que estiveram presentes na abertura, foram muitas pessoas, e os
artistas que dormiram e acordaram na galeria comigo Fernanda, Jonata Vieira,
Ludmilla Ramalho, Renato Negrão, Luiza Palhares, Marc Davi, Marcos Hill,
Janaína Tábula, Zaika dos Santos. Eu quero dizer para essas pessoas e para
todas as pessoas que vieram aqui visitar, que voltaram, que estão aqui, que tem
estado aqui, eu quero dizer muito obrigada
Muito obrigada por compartilhar essa experiência comigo
Essa performance que estou fazendo de sete semanas é uma
performance coletiva e vocês estão participando dela
Como estamos em um ateliê de performance
Como estou fazendo uma performance agora
Enquanto escrevo, enquanto falo, enquanto estou diante de
vocês e vocês diante de mim
Penso em como essa performance se manifesta
Como ela se manifesta nesse texto
E como ela se manifesta no corpo
Meu ou de vocês
Nós somos um corpo agora
Eu mim ela se manifesta como um apaixonamento
Por vocês
Pelo espaço
Que são vocês
Espaço em mim, poros
Espaço em vocês, ressonâncias
Aberturas
Eu espero que essa abertura seja um ato político radical
de transmutação
de acolhimento
de encontro
de amor
muito obrigada
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