segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Primeira semana de \perfura _balanço

Concluindo a primeira semana de ateliê de performance, muitos artistas, experiências e provocações atravessaram os artistas e visitantes que habitam/transitaram pela galeria GTO do Sesc Palladium.

Uma das experiências mais evidentes é a transformação do espaço em ateliê de fato. Espaço aberto a ser ocupado, habitado, compartilhado e usufruído por quem vier. E o uso do espaço como ateliê é evidente por meio daqueles que entram, sentam e tomam tempo seja para improvisar um movimento de dança, seja para desenhar, seja para compartilhar ideias e propostas, seja utilizando a Estação Gráfica como ferramentas múltiplas para os cadernos de processos do Perfura.

Outra evidência perceptível na primeira semana é que um ateliê numa galeria de arte é um espaço aberto a múltiplos trânsitos e atravessamentos. Isso também significa interrupção, perda do fio da conversação, dispersão. Um espaço de fluxos, de permanência, porosidade e também de trocas. O que foi interrompido pode voltar ou se perder. Ou retornar num momento imprevisto. É preciso seguir o fluxo e estar presente, apesar dos fluxos e das interrupções. O que nos remete a uma pergunta importante: como desenvolver estado de presença num contexto cultural e social em que somos atravessados constantemente por tantos estímulos, ruídos e interrupções? O que é possível desenvolver em meio a tanta diversidade e estímulo?

Há teorias que dizem que estamos num amplo agora. Que, ao contrário da experiência histórica em que o presente era um breve instante entre o passado e o futuro, estaríamos vivemos uma sequência ininterrupta de agoras. Um presente alargado, constantemente invadido pelo passado (com suas memórias e aprendizados) e com pouca expectativa de futuro. Um presente alargado, embora também possamos experienciar, nesse mesmo presente amplo, um fluxo constante de interrupções. O smartphone e seus alertas seria uma prova cabal.

Numa sociedade da dispersão, há teóricos, sociólogos e economistas defendendo que a atenção é a comodity mais valiosa.

Onde está a sua atenção?
Aqui, não seria fácil separar em polos opostos atenção e presença, enquanto é bem fácil e corriqueiro associar ausência e dispersão.
Assim, mais uma vez a pergunta é: como desenvolver um estado de atenção tonificada na presença corporal num contexto atual de dispersão e atravessamentos? No caso de ateliê aberto, como delimitar momentos mais porosos e outros menos porosos?

Para isso, o que se pode ver nesses primeiros dias é que o grupo de residentes mantém as propostas em troca constante, como aconteceu na última sexta, durante a Primeira Reunião Pública Para Assuntos Privados. Outras vezes, as conversas são mais individuais, entre um e outro, ou de maneira informal e espontânea. Aos poucos, o que importa vai tomando forma.

De toda forma, como ateliê de performance, o desafio e a benção é desenvolver o estado de atenção e presença, fluir na criação, em meio a múltiplos atravessamentos. Como criar e ser atravessado? Como estar presente em fluxo? Como manter o estado atenção apesar da distração?
Nessa primeira semana, passaram por esse espaço como propositores, provocadores e ensaístas: Mariana Rocha, Paola Rettore, Wilson de Avelar, Arthur Camargos e Davi, Mathias e Felipe Soares. Os artistas residentes Guilherme Morais, Fernanda Branco Polse, Ana Luisa Santos, Zaika dos Santos, Jonata Vieira e Renato Negrão fizeram sarau de performance e ações de rua, além de acompanharem as provocações e proposta dos visitantes.

A Estação Gráfica está aberta constantemente como espaço para os artistas e para o público visitante, com material gráfico, disponibilizando máquina de xerox, papéis, pastas e demais materiais para quem quiser compor para si mesmo um caderno de processo do Perfura.

Aos poucos vamos atualizando por aqui o que tem acontecido. Embora nenhum texto seja capaz de dar conta do acontecimento. É preciso estar presente. Fisicamente. Disponibilizar o corpo, a percepção e a abertura para a experiência.



Registro de ação de experiência com o vento realizada no final da tarde de domingo, dia 11.

Foto: Luiza Palhares


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