sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Provocador _Marta Neves

Na quarta, dia 14.12, Marta Neves apresentou a performance "Bigfral Comfort" sobre os processos burocráticos, exaustivos e exasperantes de monitoramento e avaliação de projetos, na constante comparação controlada entre o real e o idealizado. Marta leu um texto produzido a partir de colagens de fontes diversas com ajustes e adaptações da artista.

Enquanto lia texto de monitoriamento e avaliação, Marta se deitava no colchão de ar e trocava constantemente de fralda geriátrica, com direito a talquinho e lenços umedicidos.

Após apresentação de sua fala performática, Marta conversou com os artistas e público presente sobre a potência do humor que debocha seriamente sobre o trágico cotidiano. A artista também lembrou de uma frase de Marcelino Freire de que o artista cria para vingar da vida e das estruturas sociais, como um modo para se libertar das pressões cotidianas e institucionais. "A vingança do artista é criar", resumiu. Ana Luisa lembrou uma frase de Dudude Herrmann e Marcelo Kraiser: "Se não pode rir não é sério". Ana também lembrou que não se trata de uma risada frouxa, mas de um riso que cria brechas, que critica e faz pensar; rir do terrível como modo de criar saídas.

Uma conversa muito potente que terminou em festa no ateliê.

Confira abaixo trechos do texto lido










BIGFRAL COMFORT
por Marta Neves

"O discurso estratégico tende a instigar o ideal da conquista e otimizar os recursos existentes em prol de qualidade, inovação e sustentabilidade para dar visibilidade à instituição para promoção de sua imagem externa.

A gestão de recursos visa ao aprimoramento dos processos visando atender aos interesses dos pares de determinado setor.

Nessa direção pontuamos que faz parte do discurso oficial que pensemos nossas ações a partir dessas macrodiretrizes. Essa é uma orientação macropiramidal.

Uma preocupação intensiva é com o monitoramento e a avaliação.

O processo de monitoramento e avaliação constitui um instrumento para assegurar a interação entre o planejamento e a execução, possibilitando a correção e a retroalimentação permanente de todo o processo de planejamento.

O monitoramento se diferencia qualitativamente de um simples acompanhamento, pois além de documentar sistematicamente o processo, identifica os desvios na execução das atividades propostas fornecendo as ferramentas para a avaliação.

Já a avaliação possibilita a implantação de ações corretivas para ajuste ou re-planejamento das atividades do monitoramento.

(...)

Para que o processo de monitoramento e avaliação se estabeleça e se consolide é preciso o investimento em muito trabalho organizativo, com responsabilidade compartilhada entre o gestor, equipes de apoio designadas pelas instituições gestoras e o Conselho Consultivo.

O primeiro passo é responder à pergunta básica do trabalho: Que resultados foram alcançados?

No caso deste plano, esta resposta advém da comparação entre a situação real e a situação ideal planejada por meio da coleta de insumos relacionados aos indicadores. Para isso, vale destacar, contribui fortemente o georreferenciamento.

O georreferenciamento começa a ser desenvolvido mapeando-se toda a rede de variáveis do banco de dados. Isso gera um índice, denominado índice de vocação à sociedade externa. Os índices, por sua vez, compõem-se de fatores de gestão, fatores estratégicos e fatores institucionais, considerados de mesma importância numa média ponderada.

Quanto aos indicadores, sua formulação é sempre muito importante nos processos de planejamento e consiste numa tarefa particularmente complexa.

A perspectiva de sucesso integral para a medição dos indicadores é, de certa forma, pretensiosa. Um fator preponderante é “como coletar as informações fornecidas pelo indicador”, ou seja, a escolha acertada das fontes de verificação é que irá determinar a factibilidade da comparação entre a situação real e a situação ideal planejada.

As fontes de verificação são os documentos, locais ou elementos que subsidiam com informações a avaliação da evolução de cada indicador.

Por outro lado, a sistematização dos efeitos dos processos institucionais não visa ao fiel cumprimento das formas aqui previstas, mas ao atingimento das finalidades de cada ato e do processo como um todo. Contudo vale lembrar a interdependência e a unidade teleológica dos planos estratégicos. E embora o monitoramento e a avaliação nos subsidiem com as diferenças entre o planejado e o executado, essas diferenças entre o real e o imaginado não se aplicam ao todo aqui descrito".


Fotos: Luiza Palhares

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