Abrindo o espaço de provocação na primeira semana de \perfura, Paola
Rettore trouxe um conjunto de atividades para que os artistas e público
presente pudessem experimentar a partir do silêncio, do vazio e da
indeterminação. Paola propôs textos e materiais diversos, como fita crepe, pufs
e laranjas, como objetos de experimentação.
Paola Rettore explica sua abordagem para a provocação da primeira
semana:
“Uma proposta foi não conhecer as pessoas.
Uma proposta primeira seria trabalhar no silêncio.
Pedi que para não ficar no lugar de ‘provocadora’ e que todos usassem
de seu livre arbítrio. Eu faria uma proposta e cada um decidia o que iria realizar,
aproveitar, imaginar. Eu queria ser um vazio... Para que fosse um campo de
imaginação. Os artistas residentes seriam os heróis e eu uma terra imaginária.
Os heróis em busca de algo de natural ou sobrenatural que pudesse não somente
colocar o ser humano à tona ou fazer emergir aquilo que parece que nos difere
de outras naturezas e nos faz diferentes em nosso reino: a imaginação. Muita
pretensão.
Por isso queria mesmo era desaparecer. Queria me diluir na areia do
deserto... queria ser areia do deserto. Queria mimetizar-me com a areia. Queria
um ambiente para que o herói buscasse algo além para uma transcendência,
guardando uma certa consciência para tomar decisões. Por isso os artistas
seriam os heróis e eu o deserto. Compartilhar. ‘Eu trouxe para vocês alguns
pedaços de materiais de obras minhas de coisas que eu faço. De
referências que eu tenho’.
Por que eu seria coisa, seria o deserto. Pois o lugar do provocador
poderia ser
confundido com o ‘diabo’. O diabo no lugar da provocação, da tentação
lugar do provocador e eu queria ser o amarelo no azul do céu. Céu aberto.
Na dinâmica do acontecimento tudo poderia acontecer. No lugar do
deserto poderia ser o acontecimento, a própria experiência de vida, devida a
nós
mesmo, nem sei se é processo... processo nos dá a crer que há um
objetivo. A
vida do artista pode (deve) ser um acontecimento. Cada um poderia
criar seu
próprio processo de ‘o que eu estou fazendo aqui e o que isso diz para
mim, e depois o que eu faço com isso. O deserto nos daria a ocupação de estar
ali diante daquele sol, daquele céu, diante daquele tempo e na transitoriedade
que é o deserto”.
Fotos: Luiza Palhares
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