EVENTO – RASTRO – CONTEXTO
Quando a performance surgiu na década de 60, ela
erodiu princípios básicos do conceito convencional de arte: a presença vem
antes da representação, o processo vem antes do trabalho e a experiência
interna vem antes da habilidade externa.
A recepção da performance como uma realidade temporal, efêmera e não objetal traz uma série de questões para a sua apresentação em espaços expositivos. Hodierno, os museus estão se convertendo em um lugar privilegiado do “vivo”, do que acontece agora, do que se passa quando vários corpos se encontram em um mesmo espaço.
Isso se dá em face da crescente aceitação das “artes vivas” – live arts, performing arts e não só da performance – por parte de instituições dedicadas a arte atual. Uma realidade que contrasta o lema adorniano de que o museu se aproxima de um mausoléu.
Não faz muito tempo, e ainda hoje, as exposições que tematizam trabalhos performativos pareciam focar-se nos rastros documentais – fotografias, textos, vídeos, etc.
Aproximadamente de uma década para cá tem se generalizado a apresentação de re-enactements (re-performações) e performances delegadas[1] nos espaços dedicados a arte. E também há um grande aumento das exposições e iniciativas institucionais que tratam de superar a retórica documental como forma de recuperar os elementos experienciais do performativo.
Vemos uma tendência de encontrar um espaço específico para o desenvolvimento expositivo e da investigação desse modo de fazer, assim como da necessidade de colocar em dia uma estrutura museológica antiquada. Vemos o reconhecimento institucional de práticas que visavam tencionar as relações com as instituições.
São instituições tentando dar conta do que é a performance.
É a história da arte tentando dar conta da performance.
Após a performance (o evento específico que se dá no espaço e no tempo quase sempre frente a um público), o que sobra são rastros: imateriais na memória do espectador; e materiais na forma de documentos visuais e acústicos.
Somos confrontados com o problema de encontrar uma forma de adequada de “armazenação” do ocorrido.
Como formas baseadas no processo, efêmeras e temporárias de apresentação podem ser transformadas em apresentações permanentes num espaço expositivo? Como a experiência da performance pode ser passada para um público mais amplo que não esteve presente no momento da sua apresentação?
MARIANA ROCHA
[1] Uma questão que já vem atraindo
atenção há alguns anos é a contratação de não profissionais para performar em
nome do artista e seguindo as suas instruções. Muitas vezes as pessoas
contratadas vão performar a sua própria categoria socioeconômica, seja com
relação a gênero, classe, idade, etnicidade, profissão, etc. O que vai contra a
tradição da performance do final da década de 60 e início da década de 70, na
qual o trabalho é realizado pelos próprios artistas. Essa tradição valoriza a
presença e a imediaticidade através do corpo do próprio artista.
Fotos: Luiza Palhares
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