"É pelo corpo que somos tempo e lugar", escreveu uma vez o poeta e medievalista Paul Zumthor.
É pela escuta que somos um corpo poroso, um corpo perfurado.
É pela escuta que somos um corpo poroso, um corpo perfurado.
O que pode ser um ateliê de performance? É a pergunta que a performer e curadora Ana Luisa Santos faz como proposta norteadora para os próximos meses em que permaneceremos no Sesc Palladium, entre conversas ensaístas, disseminários, provocações, ativação corporal e mostra de performances.
Sobre as potencialidades do que pode ser, num momento da noite de abertura em que escutávamos Júlia Panadés, Olivia Viana resumiu, exemplificando o propósito de estarmos ali: "isso é um ateliê de performance!". E sobre o que, afinal, falava Panadés? Sobre três pessoas em Belo Horizonte – mais especificamente, três mulheres – que dão abraço de ventre, também definido como abraço uterino. Sinto muito, para entender o que é um abraço uterino é preciso estar em presença – física e nunca metafísica, ok? –, pois, é com o corpo que se conhece esse tipo de coisa.
Um ateliê de performance "serve" (também) para esse tipo de coisa. Para revelar conhecimentos (e afetos) do corpo que você nem imagina existir.
Ainda sobre corpo e presença, Amanda Prates começou os trabalhos de ontem compartilhando exercícios de canto, em que a própria voz materializa a presença tonificada do performer. Trata-se da expansão do corpo e de sua projeção a partir do som, mas é também, como exercitou Amanda com os residentes e visitantes, uma disposição corporal específica (como plantar bem os pés no chão e abrir bem o peito), capaz de potencializar a projeção – tanto sonora quanto da própria presença corporal.
Para alimentar o corpo e proporcionar uma experiência sensorial gustativa, Joseane Jorge preparou duas mesas com comidas de inspiração vietnamita, além de água saborizada.
Para alimentar o corpo e proporcionar uma experiência sensorial gustativa, Joseane Jorge preparou duas mesas com comidas de inspiração vietnamita, além de água saborizada.
Se é pelo corpo que somos tempo e espaço e se é pela escuta que somos corpos porosos abertos ao perfuramento, um ateliê de performance atua no campo do possível, do aberto e do desconhecido. Não sabemos ainda o que vai acontecer (e já está acontecendo e aos poucos vai tomando forma), mas estamos atentos, interessados e disponíveis para a transformação e para compartilhar – experiências, perspectivas, técnicas, aprendizados, insights, risadas e conversas fiadas.
No início da noite de ontem, Ana Luisa ressaltou: "isso não é vernissage, é uma abertura"
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