Confira a
seguir trecho do texto preparado por Marina Câmara para o \conversas ensaístas
A mise-en-scène do ateliê
Por Marina
Câmara
Começo
este ensaio com a lembrança da sensação que tive tanto em um dos encontros que
a Ana Luisa propôs na véspera da Abertura do Perfura quanto no próprio dia da
abertura: ao entrar aqui na GTO a minha sensação foi de estar em um espaço com
o qual me senti imediatamente familiarizada. Era um espaço de trabalho. Mas era
também um espaço de convivência, de habitar.
No dia
da abertura comentei com a Luiza Palhares o quanto a presença das plantas e
aquela iluminação tinham tornado o espaço gostoso, agradável.
E a resposta que ela me deu foi emblemática. Ela disse: “está ótimo mesmo. Essa luz, para foto, não é tão boa, mas pra gente é ótima.”
E a resposta que ela me deu foi emblemática. Ela disse: “está ótimo mesmo. Essa luz, para foto, não é tão boa, mas pra gente é ótima.”
Por que
eu decidi começar meu ensaio falando disso? Pois acredito que ela resumiu
grande parte do que me pareceu ser, desde que tomei conhecimento do Perfura,
sua proposta: atuar artisticamente, mas a partir de vivências cotidianas.
Fiquei
pensando no nome do evento, Perfura.
Pra
começar, é um verbo, ou seja, algo da ordem do discurso. E o fato,
aparentemente simples, de ser verbo faz com que se trate de uma palavra que,
“do ponto de vista semântico, contém as noções de ação, processo ou estado.”[1]
Em
segundo lugar, este verbo está sendo conjugado no presente, o que é muito
sintomático porque nos convoca para o tempo da própria ação. Justamente, se a gente recorrer à definição de
“presente” na gramática e na linguística, temos que o presente é este tempo
verbal no qual “a ação decorre simultaneamente com o ato da fala [...] ou que é
atemporal.”
Essa
característica de ser, ao mesmo tempo em ato e atemporal, isto é, fora do tempo
é muito interessante já que estar fora do tempo remete a ideia de estar fora da
mensuração do tempo: algo que não é classificável em passado, presente ou
futuro, mas que é híbrido, heterogêneo, ou que pode transitar livremente entre
estas três compartimentalizações que nós humanos criamos pra ele.
É como
Giorgio Agamben diz sobre declarar “eu te amo”: um ato que tem caráter
performativo, já que o seu significado coincide com o ato do seu proferimento.[2]
E, por
fim, o verbo perfurar, além de ser conjugado no presente, está na terceira
pessoa, o que nos faz pensar na saída do binômio eu-você, já que está aqui
incluído um outro.
Para
além dessas breves notações sobre o primeiro nome do evento, Perfura, temos
ainda a ideia de “ateliê de performance”, quer dizer: a performance em seu
estado mais ensaístico ou, se preferirmos, a performance quase como uma mise en
scène do ateliê.
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