Começo com John Cage esse balanço da terceira semana porque voltamos do recesso e abrimos 2017 a todo vapor, num ritmo ininterrupto – pelo menos assim o foi para essa jornalista que vos escreve. E, sem que percamos John Cage de vista, foi ao sentar ao final do domingo e recapitular a semana, refazendo à mão a pauta mental do que escrever, que me coloquei a seguinte dúvida-pergunta: como escrever em meio a ausência de pausas? Pergunta que reverbera uma anterior: como criar em meio a tantos atravessamentos e perfurações, excitações e interrupções? (E me lembro, como quem é cutucado com vara curta - da ironia -, da minha pesquisa sobre serenidade e pensar meditativo)
Esses são os tipos de riscos que se corre ao participar de uma residência ateliê aberto de performance e ser convidada a acompanhar escrevendo sobre o que acontece. Um assunto para outro texto é: como escrever sobre performance na imediatez do ocorrido? Assunto para outro texto porque há muito o que dizer e muito já foi dito – sobre registro de performance na forma escrita, sobre interpretação e experiência/vivência.
O formato da residência é ousado. O número de presenças ativadoras também. Contabilizamos "oficialmente" 70 presenças – para dar uma dimensão do evento e para informar a imprensa. Contudo, as presenças físicas, das pessoas que passam pela galeria, são muito mais do que isso. Somos, para começo de conversa, 15 presentes, diariamente. Sem contar os funcionários do Sesc que nos dão apoio, que transitam pelo local e que relacionam com a proposta do \perfura, que se fazem presente de uma forma ou de outra. Somos 15: artistas residentes, artistas da estação gráfica, assistente de galeria, produtoras, fotógrafa, cinegrafista e jornalista. Somos quinze universos pulsantes vibrantes num espaço aberto, exposto a quem quiser vir e conosco trocar, dialogar, deixar um pouco de si, levar um pouco de nós, do que foi construído junto, daquilo que se dá só mesmo no encontro – espontâneo e indomável.
O desafio é encontrar as pausas em meio aos movimentos constante. Respiro em meio a escuta e ao diálogo incessantes. Estar dentro de si e em conjunto com tantos outros. Em equilíbrio dinâmico – nem sempre estável. Testar no espaço do ateliê o equilíbrio homeostático e continuar fluindo.
"Nenhum som teme o silêncio que o extingue, e não há silêncio que não esteja grávido de sons", escreveu Cage. "O senhor sabe o que o silêncio é? É a gente mesmo, demais". definiu Guimarães Rosa, naquele sempre referenciado Grande Sertão: Veredas.
O ateliê pulsa. Os diálogos e as trocas parecem infinitas. A criação reverbera constantemente. Ideias pululam. Ações, apresentações, provocações, ensaios, partilhas do vividos nos atravessam a cada instante. Somos corpos porosos. E estamos em performance.
O estado e o tônus da presença é (sempre –parece) o desafio.
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